domingo, 27 de junho de 2010

Era uma vez um Dodô


Dodô ou dronte Raphus cucullatus

No mês de Julho (luglio) no jornal Il Ridoto sairá mais um artigo, desta vez sobre curiosidades ornitológicas. E uma delas é o espécime da gravura o Dodô deste post.

Abaixo segue o artigo em português:


Os Pássaros

As corujas sempre foram associadas aos
magos e feiticeiras, mas nem sempre ao
mau-agouro. Couruja-buraqueira
Athene cunicularia
 Porque deveríamos observar os pássaros? Se algum deles surgir devemos levá-lo em conta? Afinal para alguns gregos do passado uma ave voando sobre um caminho poderia ser um presságio. Para Edgar Allan Poe o corvo disse nunca mais... Noé soltou uma pomba para sondar o novo mundo. A terceira ou primeira parte da Trindade Pai-Filho-Espírito Santo é representada por uma pomba, sem falar no hórus egípcio e em orientais dançando como Grous na primavera.Existem muitas coisas curiosas e verdadeiras maravilhas sobre estas criaturas aladas.
Aves são animais singulares, nós os mamíferos que, no decorrer dos últimos séculos, acabamos por dominar (que palavra arrogante) o planeta, não somos tão bem distribuídos nele como as aves. Parece que as aves foram mais eficientes em ocupar espaços.Encontramos a avifauna até onde o homem não consegue viver sem apoio mecânico, como os famosos pingüins imperadores que caminham quilômetros para se espremerem num círculo em constante movimento para se proteger das nevascas do inverno do pólo sul. Se o seu filhote cair do meio quentinho dos seus pés congela imediatamente!

Os pingüins em geral 
Pingüins limpam o gogó na Península Valdez.
Pingüin-de-magalhães Spheniscus magellanicus
como os magellânicos das fotos são aves que voam somente em baixo da água e em velocidades de F1. Suas asas evoluíram para nadadeiras eficientíssimas que associadas ao seu corpo hidrodinâmico lhe dão uma performance subaquática que os peixes do seu cardápio detestam. Esta velocidade na água lhes permite também a fuga de predadores que tem como única oportunidade para caçá-los quando eles entram e saem do mar. Que armadilhas da evolução levaram os Pingüins a ter este “estilo” de vida? Talvez os observando encontremos a resposta.

Eles até lembram os homens-santos da Índia.
Apesar do nome Grou senhorinha.
(ave exótica essa foto é no P.N. Iguaçú)

Nas montanhas temos a performance sobrenatural dos Grous que migram de um lado para o outro do Himalaia passando voando por cima do Nepal! Eles alcançam altitudes, para esta travessia, muito maiores do que o homem pode sonhar: cruzar a cordilheira da Ásia central com a força das suas próprias asas (oníricas). Ou então se fôssemos anjos.
Existiram outras aves que não voavam como o Kakapo o enorme papagaio neozelandês, que sendo verde, se camuflava ficando imóvel, disfarçando-se de moita, na presença de um predador. Ele praticamente se extinguiu assim que o homem branco introduziu o gato doméstico e os cachorros na Nova Zelândia depois de 1642.
Falando em extinção, uma ave singularíssima é o maior exemplo do fator humano na eliminação das espécies: o Dodô. Ele está mais para uma corrida de comitê de Alice no país das maravilhas, mas sua história não é nada maravilhosa. Os Dodôs foram descobertos nas ilhas Maurício pelos portugueses, que desembarcaram em 1507, mas foram registrados em 1598 por diários de bordo holandeses, e já em 1600 eles haviam desaparecido completamente. O motivo? Eram tão bobos que bastava chamá-los pegá-los pelo pescoço e créc! Menos um Dodô, por puro esporte e ignorância uma vez que sua carne foi descrita como repugnante. Detalhe: ele também não voava... Dizem que o nome da ave deriva do português arcaico doudo hoje doido...


Ema ou Ñandú Rhea americana

Algumas pesquisas arqueo-ornitológicas atuais apontam cada vez mais para uma linha evolutiva dos dinossauros até as aves, realmente sempre achei algumas aves pré históricas e de aparência reptiliana como o Cazuar da Nova Guiné e norte da Austrália ou o Ñandú um avestruz sul-americano chamado de Ema no Brasil.
 Ele tem asas atrofiadas também, mas possuem pernas poderosas do tipo dos raptors de Jurasic Park.E com aquele tamanho eu não gostaria de levar uma bicada muito menos uma patada de um desses verdadeiros dinossauros contemporâneos.
A fisiologia das aves também é fantasticamente diversa, as corujas por exemplo, não possuem globo ocular, seus olhos são especializados em abrir e fechar o enorme diafragma que proporciona sua especial visão noturna. Para dar uma visão panorâmica a ela, o deus/evolução criou um pescoço que gira quase 360° e é bem flexível dando a ave uma visão geral dos arredores do seu ninho. Outra coisa curiosa da ossatura das corujas é que o seu crânio apresenta uma assimetria das cavidades auriculares. Tendo os ouvidos colocados assimetricamente as corujas, além de ouvirem muito bem, ainda utilizam a audição como um radar triangulando a posição do roedor barulhento abaixo da palha ou da neve.


O pré-histórico Casuar (ave exótica essa foto é no P.N. Iguaçú)


Por sua vez as Garças, Flamingos e outras pernaltas têm, em todo seu esqueleto, o mesmo fluido que temos apenas no nosso ouvido (no Labirinto). Não é a toa que elas dormem numa perna só e com isso conseguem esquentar uma das duas únicas partes desprovidas de penas economizando energia. 
As aves migram aparentemente guiadas por sua capacidade de “ler” um mapa magnético no planeta, algumas delas cruzam o globo de norte a sul e vice-versa sem se perder (e sem GPS).
Os comportamentos também são únicos. O famoso Uirapuru, conhecido e até homenageado no cancioneiro popular brasileiro como um grande pássaro cantor, canta somente 15 dias por ano enquanto constrói seu ninho no Brasil central. E mesmo assim só de manhã bem cedinho e durante o crepúsculo durante alguns minutos. (Para ouvir: http://www.saudeanimal.com.br/uirapuru.htm vale à pena)
E todo esse maravilhoso mundo de penas coloridas, cantos maravilhosos, vôos e balés nupciais depende de até quando irá existir um meio ambiente minimamente conservado para a sobrevivência das espécies, afinal elas são apenas a parte belamente visível do ciclo de energia que é a natureza em pleno funcionamento (Luz do sol/Que a folha traga e traduz/Em ver de novo/Em folha, em graça/Em força, em luz.. Caetano Veloso).

Flamingos andinos em Gov. Celso Ramos Phoenicoparrus andinus


Neno Brazil
Ilha de Sta. Catarina