sexta-feira, 14 de maio de 2010

Um roteiro pelo Rio Uruguai catarinense no Il Ridotto de Abril/Maio


foto Rooney Rech
Em março deste ano gravei, juntamente com a Cristal broadcast, um programa para a RBS (uma rede regional de TV) sobre o turismo responsável no Rio Uruguai, como não tive tempo de preparar um artigo sobre outro tema para o Il Ridotto, vamos então contar a história deste grande rio sul-americano que nasce em Santa Catarina para “morrer” na bacia do Prata em direção ao Atlântico:

Este documentário ganhou 3° lugar na categoria Natureza e Ecologia do
1° TourFilm Brazil, festival internacional em Florianópolis maio 2010  foto Rooney Rech






Ou na versao completa:  http://www.tourfilmbrazil.com/videos/ne-010/


Rio Uruguai das nuvens às corredeiras.

A história do Rio Uruguai começa no céu... Em meio às nuvens.


Reparem no tamanho do Dario e seu cavalo diante das montanhas.
foto Rooney Rech
 Nuvens que se formam ao longo dos paredões da serra geral catarinense e se desmancham sobre o Campo dos Padres em torno do Morro da Igreja a uma altitude média de 950 msnm com picos de mais de 1800msnm, num dos pontos mais altos do sul do Brasil, as gramíneas são a vegetação predominante nesta altitude e, assim como uma esponja, aumentam o poder de absorção do solo.

Nessa região, nos deparamos com terrenos extremamente alagados e também com montanhas e vales profundos, que recortam a borda do planalto com seus paredões verticais de rocha basáltica. O campo dos padres também é um patrimônio geológico catarinense que proporciona uma atividade turística saudável e com alto grau de sensibilização ambiental: a cavalgada.



foto Rooney Rech
 E foi cavalgando pelas bordas destes precipícios para alcançar uma das nascentes do Rio Uruguai que encontrei uma magnífica ave, o Urubu-rei.

Urubú-rei que habita os penhascos da serra catarinense.

Há milhões de anos estes grandes paredões que abrigam o urubu-rei conduzem as águas para o lado oeste da serra geral alimentando o Aqüífero Guarani uma das maiores reservas de água doce do planeta que se estende por 4 países da América latina.

Seguindo essa viagem das águas, encontramos várias nascentes, riozinhos e cachoeiras.

Infelizmente, encontramos também vastas plantações de Pinus Eliotis esta árvore canadense, que colocada no lugar errado, em plenos campos de altitude, podem contaminar o aqüífero já em sua zona de recarga.


A equipe do Instituto explorando as margens.
foto Rooney Rech
 Para conhecer melhor o Rio Uruguai o Instituto EKKO Brasil vai navegar em suas águas e, com o auxilio de imagens de satélite, mapear toda a bacia catarinense do rio formando um banco de dados para o planejamento do turismo de viés responsável, afinal, a Bacia do Uruguai ocupa uma grande parte do território catarinense, configurando-se numa importante unidade de gestão e estudos da biodiversidade e também dos atrativos naturais do Estado.

O Turismo de Aventura, a Pesca Esportiva, as Cavalgadas ou o Turismo Científico. são atividades que trabalham dentro da natureza e promovem – entre outras coisas – a sua conservação. O velho Uruguai ainda oferece outra possibilidade de turismo... A sua história


acervo Fundação Cultural de Palmitos
 Em SC o Rio Uruguai foi à estrada para a consolidação do território no extremo oeste.

Usando a lógica de sua época, os primeiros colonizadores viveram da extração e do comércio da mata nativa, utilizando o rio como meio de transporte para escoar uma enorme quantidade de madeira.



Desbravadores da região apreciam a vista do Solar dos Passarinhos.
acervo Fundação Cultural de Palmitos
 
Naqueles tempos, muitas vidas foram construídas, e também destruídas, no jogo das pranchas de madeira que flutuavam amarradas sobre a correnteza do rio. Eram feitas grandes balsas de madeiras atadas umas as outras por cipó e quando o rio enchia eram largadas na correnteza para descer o rio até São Borja no Rio Grande do Sul e dali para a Argentina.

Entrevistamos os balseiros Sr. Ítalo David Lucca, 97 anos, o Sr. Vitor Felchiner, 76 e o Sr. Silvério Osmaro Weimer o Tio Male com 85 anos, testemunhas vivas da bravura destes colonizadores na sua maioria Italianos e Alemães.

Balseiros  do Rio Uruguai se largavam nas corredeiras durantae as cheias e levavam a madeira até cidade de uruguaiana no RS ou até a margem Argentina parte desta madeira nobre ia para a Europa.  acervo fotográfico Tio Male
 Os pinheirais do Brasil Meridional foram explorados de forma intensiva desde a primeira guerra mundial até o ano de 1970 O ciclo econômico da madeira foi apenas o começo. A riqueza que essa atividade gerou até os anos setenta, aliada aos campos, lavouras e criações dos colonizadores, transformaria a região da bacia do Uruguai em peça fundamental no mosaico da economia catarinense.

A Usina Foz do Chapecó já encheu seu reservatório.
Nos anos setenta o Rio Uruguai também passou a ser visto como alternativa para geração de energia elétrica. Eram os anos do regime militar e imperava a mentalidade desenvolvimentista e a da engenharia se impondo à natureza. Algumas das barragens planejadas naquele tempo já foram construídas e a população ribeirinha hoje já conhece e convive com os prós e os contras das conseqüências ambientais, culturais e econômicas.


Garças-vaqueiras voam para o dormitório numa ilha fluvial.
Bulbulcus ibis
 O Rio URUGUAI, cada vez mais largo na direção oeste, segue definindo a fronteira entre SC e RS, suas águas correm sempre rápidas a não ser quando encontram os lagos formados pelas barragens de Barra Grande, Machadinho, Ita e a Usina de Foz o Chapecó com previsão para funcionamento em 2011.

Hoje, a prática de um turismo mais comprometido com o futuro, de pouco impacto ambiental, surge como uma importante alternativa econômica para a região do Uruguai. Esse turismo pode aliar o crescimento econômico à proteção da biodiversidade, além de chamar a atenção das comunidades para o potencial da natureza do rio e de suas qualidades naturais.


As lontras habitam trecho de rio que vai sofrer cosequencia da
hidrelétrica Foz do Chapecó rio acima.

A presença de animais selvagens como as lontras, que foram encontrados pelos pesquisadores do Instituto EKKO Brasil, são um bom indicativo da saúde do velho Uruguai. Esses vestígios mostram a possibilidade de se aplicar aqui um projeto de conservação com a ajuda do “volunturismo” (nome dado aos ecovoluntários e turistas que viajam para trabalhar em projetos socias e culturais)

A geologia da bacia hidrográfica e o Aqüífero Guarani proporcionam a esta região águas que brotam do interior da terra a uma temperatura média de 38°centígrados.

Essas fontes pelas suas qualidades hidrominerais são comparáveis as melhores águas termais do mundo e se espalham ao longo do rio aflorando nos balneários de Piratuba, Ita, Águas de Chapecó e o Balneário da Ilha Redonda em Palmitos situado na área de amostragem da expedição do Programa Turismo Sustentável Rio Uruguai

Nesta Altura nos deparamos com um Rio Uruguai que alcança 800 metros de largura em algumas partes e onde ainda se pratica a pesca artesanal em busca dos cascudos, tilápias e os espetaculares dourados, atrativos para outra atividade de turismo na natureza do rio: a pesca esportiva..

Saracura-três-potes na barranca do Rio Uruguai.
Aramides cajanea
É uma atividade que ocupa mão de obra local que conhece o rio e os locais de pesca, além de fomentar hotéis, pousadas, restaurantes e toda mão de obra necessária para receber aqueles que vem em busca dos peixes de ouro.
O dourado se alimenta de pequenos peixes nas corredeiras, nadam em cardumes e realizam longas migrações de até 400 km rio acima, percorrendo uma média de 15 km por dia subindo até onde conseguirem para desovar.

É o maior peixe de escamas do Rio Uruguai e pode saltar mais de um metro para fora d'água para vencer um obstáculo rio acima. Hoje, apesar de poder ser pescado só acima de 65 cm, a espécie tem diminuído em sua quantidade muito provavelmente pelas barreiras feitas pelo homem ao longo do rio.
Faz algum tempo as água do rio Uruguai eram muito

Biguá se alimenta de mussum capturado em mergulho no rio.
Phalacrocorax brasilianus

poluídas pelos dejetos da suinocultura e com os defensivos agrícolas, com a mudança da lavoura para a criação de gado ouve um reflexo na qualidade da água e na pesca sentido por aqueles que vivem do rio

O Rio Uruguai hoje é muito rico em peixes o que atrai várias espécies de aves pescadoras como o Biguá, vários tipos de garças, o Martim pescador e andorinhas que bebem água e apanham os insetos na superfície do rio.

A mata ciliar do Rio Uruguai por sua vez é repleta de pássaros e algumas outras aves que fazem a alegria dos Birdwatchers ou Observadores de Pássaros atividade de Turismo Responsável com grande público no mundo todo, mas ainda pouco desenvolvida no Brasil

Derrepente numa prainha da barranca do rio a equipe de pesquisadores observa uma Lontra distraída.


Lontra na barranca do rio.

Na realidade eles estavam contra o vento e a lontra não os percebeu pelo seu olfato aguçado, mas os pesquisadores sim, sentiram o forte odor almiscarado característico da espécie.
Este foi um gran finale para o programa e também para o nosso esforço de produção que foi premiado com estas cenas da lontra na natureza do Rio Uruguai. O forte odor característico das Lontras um cheiro almiscarado e meio doce esta presente no pelo do animal e em suas feses que tambem servem para pesquisa. O conteúdo do excremento da Lontra que os pesquisadores coletam serve para análise de sua alimentação e exames de DNA para fazer estimativas populacionais da espécie naquele local.


Garça-moura - Ardea cocoi - atravessa o rio

A equipe da EKKO Brasil também se depara com algumas corredeiras leves e isso nos mostra mais uma atividade possível de se fazer nesta região o Canoeyng uma atividade turística de baixíssimo impacto. E quem sabe numa corredeira mais forte do Rio Uruguai introduzir a prática do Rafting como mais um atrativo: O Turismo de Aventura.
Finalmente alcançamos o fim desta jornada pelo trecho de amostragem do rio encontrando a última cidade catarinense nas margens do Rio Uruguai: Itapiranga.

Andorinha observa o rio.
Berço da festa Alemã chamada Ortoberfest no Brasil a cidade tem um nome indígena: que, significa pedra vermelha. itá: pedra; e piranga: vermelha (?) talvez devido a cor da terra das barrancas do Uruguai nesta altura do rio.

Assim com a sensação do dever cumprido a equipe de pesquisadores comemora o fim da expedição pensando agora em levar estes dados e amostras para o laboratório do Instituto.

O Uruguai também se despede da equipe dando mais uma vez o espetáculo do por do sol em suas águas rápidas.


Com base no roteiro de Neno Brazil e Antônio Dourado

Ilhade Santa Catarina
abril 2010